Você acha chique essa vida de assessor de imprensa? Eu confesso que às vezes acho sim, mas só quem está por trás dos bastidores para fazer o porta-voz aparecer pleno, lindo e maravilhoso na frente das câmeras, ou com a voz no rádio, sabe dos imprevistos que podem acontecer.
Estou há quase dez anos trabalhando com assessoria de imprensa na área médica, então, algumas histórias eu já colecionei ao longo da jornada. E vou compartilhar algumas delas por aqui.
A primeira que me recordo foi a pior – acho que por isso que não me esqueço dela. Me traumatizou, me deixou com a cara no chão e com o meu trabalho de assessora de imprensa colocado à prova.
Me acompanhe.
Numa bela sexta-feira, me chega um pedido de uma TV querendo fazer uma matéria sobre um assunto X. A gravação seria na segunda-feira, 7h30, ao vivo, num parque aqui de Curitiba.
Pensei: “legal, vamos nessa, vai ser uma ótima exposição para meu cliente!”
Importante eu comentar que nessa época eu ainda estava começando – entenda-se: eu deveria ter pouco mais de um ano e meio de trabalho de assessoria, então, toda boa oportunidade que surgia me deixava muito feliz e eu via que o meu trabalho estava gerando frutos.
Bom, coloquei essa solicitação de entrevista no grupo do whatsapp do meu cliente (eram vários médicos) para ver quem teria disponibilidade naquele dia e horário. Afinal, agenda de médico é sempre bem complicada, difícil desmarcar pacientes em cima da hora, atrasar consultório, enfim, uma série de obstáculos.
Mas uma médica se prontificou e disse que poderia atender a demanda.
UFA. Tudo certo. Dei algumas orientações, pedi pra ela chegar alguns minutinhos antes – tipo, 7h15, sabe como é, vai que acontece algum imprevisto.
Importante eu comentar (parte II) que há momentos de tensão entre o pedido do veículo até a confirmação do entrevistado, porque geralmente esse tempo é bem escasso da parte dos jornalistas, e se não há a confirmação com o seu cliente, eles vão procurar por outra fonte. Não podem esperar muito tempo, afinal, a pauta precisa ser confirmada.
Mandei uma mensagem pra produtora toda feliz – “tudo certo para segunda então, ao vivo, 7h30. Em que parte do parque vocês se encontram?“
Tudo alinhado, eu passei o fim de semana bem feliz, afinal, meu cliente estaria na mídia de novo!
Na segunda, fiquei com celular na mão caso precisassem de mim. Não pude acompanhar a entrevista naquele dia, mas pensei: “Vai dar tudo certo”, eu deixei tudo certo entre a médica e a TV. O que poderia acontecer de errado?”
SEMPRE pode acontecer algo de errado.
Lá por umas 7h15, a produtora me manda uma mensagem avisando que a médica ainda não havia chegado. Eu parecia calma, mas nem tanto. Apesar de saber que o combinado era às 7h30, sabia que o ao vivo entraria umas 7h45, 7h50. Pensei: “imprevistos acontecem, ela deve estar uns minutinhos atrasada”.
Mas sem ter muito tempo pra esperar, liguei pra médica.
“Oi, Dra., bom dia. Tudo bem? Já está chegando no parque? Pessoal da TV me mandou mensagem aqui”
Segundos de silêncio… e eis que ela responde: “Menina, mil desculpas. Eu perdi a hora. Não vou conseguir chegar!”
Assim. Preto no branco. Sem grandes rodeios.
Meu mundo caindo em 3, 2, 1. Por vários motivos:
1 – não é toda hora que você consegue uma entrevista em TV;
2 – eu fui a assessoria que a TV procurou – sei que existem outros, principalmente que trabalham nessa área médica.
3 – como vou explicar pra produtora que não vai ter a entrevista, AO VIVO, daqui uns 20 minutos? Não terá tempo de colocar ninguém no lugar. Eu prejudiquei o trabalho do colega.
4 – meu trabalho sendo colocado à prova e eu já pensando que a TV nunca mais faria contato comigo e que eu poderia mudar de ramo.
(pequenos/grandes dramas na vida)
Respirei fundo. Eu precisava dar um retorno pra TV. Liguei e disse que a médica tinha tido um imprevisto porque TAMANHA ERA A MINHA VERGONHA em dizer que ela tinha perdido a hora!!!
A produtora disse “Sério? Ah, que pena então, mas tranquilo… vou avisar o repórter que o ao vivo tá cancelado.“
Sinceramente, não sei se ela acreditou, mas me respondeu bem educadamente – eu, no lugar dela, não sei se teria agido da mesma forma.
O fato era de que eu estava extremamente chateada pelo ocorrido. Havia um combinado, havia um compromisso. Mas no fim das contas não houve esse compromisso por parte da minha fonte. E isso me deixou muito mal.
“Ah, mas perder a hora pode acontecer com qualquer um” – pode e não pode. Quando há um compromisso, você pode se cercar de várias ferramentas pra te lembrar. Colocar o despertador no celular e deixá-lo bem longe da sua cama, assim você terá que levantar pra desligá-lo; pegar um relógio analógico do tempo dos nossos pais e ouvir aqueles ponteirinhos rodando o tempo todo… Enfim, há maneiras.
Uma lição aprendida foi a de que com aquela porta-voz eu não poderia contar mais. Infelizmente, ao longo da jornada, você vai vendo com quais fontes pode realmente contar.
Outra lição foi a de que os dramas muitas vezes estão na nossa cabeça – naquele momento, minha preocupação era de que não me ligariam mais para pedir fontes e que meu nome estaria circulando nas redações, do tipo “nem fale com ela, me deixou na mão num ao vivo com a fonte que indicou“. Não só esse veículo como vários outros continuaram me chamando – ufa, minha carreira de assessora de imprensa NÃO havia acabado!
Foto: Divulgação