O que o cantor Netinho, a ex-BBB Maria Melilo, a atriz Deborah Secco e o ator e diretor Miguel Falabella têm em comum? Todos eles já usaram anabolizantes. O principal motivo para famosos e também anônimos recorrerem a esse tipo de substância é que ela é uma alternativa rápida de aumentar a massa muscular e a resistência, mas com consequências graves para saúde.
Pensando em alertar a população sobre os perigos do uso de esteroides anabolizantes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) criou a campanha #BombaTôFora. O objetivo é conscientizar os pacientes que os danos são bem maiores que os ganhos, e o que parece ser uma fórmula mágica é, na verdade, um perigo iminente.
Camila Luhm, endocrinologista da Neoclinical e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), lembra que o uso dessas substâncias vem se tornando comum principalmente por aqueles que praticam esportes, seja para aumentar a competitividade ou por questões estéticas.
“Os esteroides anabolizantes são drogas artificiais cujo ingrediente principal é uma imitação da testosterona, principal hormônio masculino. Quando entram no corpo, os esteroides entram em algumas células, como as do fígado e as musculares, e provocam alterações químicas. Infelizmente, seu uso indiscriminado e abusivo é muito perigoso e pode causar danos irreparáveis ao corpo humano”.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais são inúmeros, tanto em homens quanto em mulheres. A doutora listou alguns: aumento de acnes e queda do cabelo; mau funcionamento ou tumores no fígado; alterações de comportamento; aumento do colesterol ruim (LDL) e redução do colesterol bom (HDL), provocando inclusive casos de infarto do miocárdio em indivíduos jovens; trombose; hipertensão, e o risco de adquirir doenças transmissíveis, como AIDS e hepatite.
Camila acrescentou, ainda, que os pacientes devem desconfiar se o médico receitar anabolizante para fins estéticos.
“Nenhum médico, seja endocrinologista ou não, tem aval do Conselho Federal de Medicina para prescrever anabolizantes com finalidade estética ou efeito ergogênico. Portanto, se algum profissional prescrever anabolizantes com essa finalidade ele estará cometendo uma infração ética, podendo responder a um processo ético-profissional pelo Conselho Regional de Medicina”, alertou.
Anabolizantes e o câncer
Além dos vários efeitos colaterais provocados pelos anabolizantes, eles também aumentam as chances de se desenvolver um câncer. Segundo Camila, eles estimulam a proliferação celular e, consequentemente, o desenvolvimento em diversos órgãos.
“Os anabolizantes são um dos fatores de risco para os adenomas, tumores benignos do fígado com possibilidade de se tornar malignos. Além dos tumores hepáticos, os hormônios também estão relacionados com os cânceres de testículo e próstata, em homens, e de mama e endométrio, em mulheres”, explicou a especialista.
Consequências do uso de anabolizantes
Para as mulheres, seu uso pode gerar características masculinas no corpo, como engrossamento da voz e surgimento de pelos além do normal. Além disso, a irregularidade ou interrupção das menstruações, a diminuição dos seios, o aumento do tamanho do clitóris e até mesmo o aumento de apetite são outras consequências típicas.
Já nos homens, o excesso de anabolizantes pode causar aparecimento de mamas, calvície, redução dos testículos e diminuição da contagem dos espermatozoides, podendo até mesmo causar esterilidade.
Infelizmente, os adolescentes também têm acesso a essas substâncias, e seus efeitos são ainda piores, como comprometimento do crescimento, maturação óssea acelerada, desenvolvimento sexual precoce e aumento dos pelos pubianos e do corpo.
Afinal, para quem são indicados os anabolizantes?
Com prescrição médica, os anabolizantes têm seu uso recomendado. Camila explicou que eles são indicados para uma situação clínica chamada hipogonadismo, que é quando existe diminuição da produção testicular (gônoda masculina) de testosterona.
“É uma condição que apresenta diversas causas como síndromes genéticas, infecções, tumores, exposição à radiação e trauma. O objetivo do tratamento nesses casos é restabelecer os níveis fisiológicos de testosterona e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, resumiu a endócrino.
Androgênios também podem ser usados clinicamente para pacientes que tenham perdido muita massa magra em função de doença grave/debilitante ou para ajudar pacientes com AIDS a recuperar peso. Nos casos de necessidade clínica, os pacientes são indicados a tomarem apenas doses mínimas para apenas regularizar sua disfunção.
Diferença entre anabolizantes e suplementos
A especialista também listou as principais diferenças entre anabolizantes e suplementos:
>> Anabolizantes: são feitos a partir de hormônios, geralmente derivados sintéticos da testosterona. São capazes de apresentar resultados muito rápidos. Doses utilizadas para fins estéticos extrapolam todos os limites, podendo causar graves efeitos colaterais.
>> Suplementos: são extraídos dos alimentos e são produtos destinados a suplementar a dieta. Os suplementos alimentares contêm ingredientes como proteínas, vitaminas, minerais, carboidratos, aminoácidos ou a mistura desses nutrientes em quantidades preestabelecidas. Deve ser feito sempre com orientação médica. Na hora de comprar um desses produtos é bom verificar se ele tem selo de certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).